A Ilha rejuvenesce, alegra-se com a visita de gente da estranja.
Não sei se há diminuição de visitantes, mas vê-se que, diariamente, são dezenas os que chegam às Lajes – a vila Baleeira – para tomar os barcos de observação de baleias e golfinhos. A frequência é tal que as empresas locais chegam a fazer três saídas diárias, de manhã ao sol posto, sendo que cada uma delas dura, aproximadamente, três horas. A zona litoral da Vila anima-se e o Museu dos Baleeiros, instalado nas antigas casas dos botes, também beneficia com a presença dos turistas, tornando-o o mais visitado dos Açores.
Quem vem de fora conhecer esta ilha sabe ao que vem.
Não oferecemos nem praias, nem sol, mas outros atributos da natureza que começam a ser reconhecidos e divulgados internacionalmente.
O turismo já é uma atividade de dimensão apreciável, à medida da ilha, com que os agentes económicos contam. Todavia, não basta ter meios de transporte, infraestruturas hoteleiras e equipamentos adequados à observação de cetáceos.
Os empresários parece estarem a responder, com uma certa qualidade, à procura crescente. Mas há outras atividades e instituições, cujo contributo proporcionaria outras mais-valias que não estão minimamente exploradas e divulgadas.
Na ilha do Pico, como nas demais, há uma história de séculos construída entre abalos de terra e vulcões, nos campos e no mar, que se foi plasmando indelevelmente nos atos de culto, no folclore, na literatura, na arquitetura, na construção naval, nas indústrias da agricultura e da pesca - na idiossincrasia do povo.
Somos muito mais que o mar que nos rodeia. Trazemos a água salgada no sangue, o verde da pastagem e da floresta no olhar, a rudeza do basalto nas mãos calejadas. Esta forma de estar no Atlântico tem de ser valorizada e conhecida.
Pela ilha à roda, há milhares de paredes construídas para abrigar os vinhedos, as frutas, as sementeiras, dividindo mais as pequenas heranças.
Há plantas endémicas que o planeta guarda aqui, perdidas nos matos, sufocadas por avassaladoras infestantes.
Há um património construído de antigas casas rurais, muitas já sem teto, que mantêm intactas as fachadas, balcões e escadarias em pedra lavrada, tendo ao lado cisternas de pequena ou grande capacidade onde se abrigava a água da chuva que regenerava vidas humanas.
A religiosidade do povo, construíu na primeira povoação uma Ermida a São Pedro, nome do primeiro pároco do Pico, junto à aportagem dos primeiros povoadores, onde nenhuma referência histórica existe. Há igrejas e capelas, construídas pelos fiéis, ao longo de cinco séculos de sismos e calamidades, sem uma simples placa que permita avaliar estilos arquitetónicos e devoções populares, crenças antigas, algumas oriundas de terras tão distantes como o Brasil.
Da presença dos franciscanos nesta ilha, nos dois imponentes conventos de Lajes e São Roque, nenhum sinal, apesar de os frades de São Francisco estarem na génese da instrução da nossa gente, na doutrinação da fé e no cultivo das terras.
Temos homens públicos, poetas, escritores, músicos, historiadores, cientistas, construtores navais, artífices, destacados emigrantes nas Américas e nos Brasís, gente de querer e de saber que dignificam a terra onde nasceram e os valores do humanismo e da liberdade.
Temos formas singulares de estar na vida: culinária, trajes típicos, hábitos do quotidiano, de diversão e de expressão do culto que deveriam ser teatralizados para que os visitantes soubessem como somos; não só em festas anuais, mas durante toda a época estival, como forma de animação.
Há pratos típicos, queijo e vinho afamados, artesanato em marfim, osso de baleia e cedro do mato, que deveriam estar disponíveis nos locais de maior concentração turística, servidos por gente vestida à moda do Pico e preparada para prestar informações. É assim que acontece em vários países, aproveitando as férias dos estudantes.
No turismo, grande responsabilidade e intervenção compete às autarquias locais e aos organismos públicos que não podem virar a cara aos visitantes sem antes terem preparado convenientemente a época.
Não basta dizer-se que as ilhas estão integradas no património da UNESCO, na rede Natura, que há zonas de proteção disto e daquilo, quando nos locais, não há qualquer informação que sinalize essa classificação. É muito pouco considerar um imóvel de interesse concelhio, regional ou nacional, quando quem o observa não é informada do seu valor.
Falta informação escrita, elaborada por nós, pois a que os estrangeiros trazem do seu país, refere pouco do que referi.
O turismo é uma mais valia e pode constituir um dos principais pilares da nossa pequena economia. Mas há ainda muito a fazer para que possamos usufruir dessa potencialidade que exige formação qualificada e preocupação acrescida de todos os agentes: operadores, empresários, trabalhadores, autarquias, escolas, instituições culturais e governo.
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